sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Abaixo os muros da educação!

Breve análise do documentário - Anísio Teixeira: Educação não é privilégio


“Uma ‘escola unica’ obrigatoria para todos, ministrando ensino de um modo integral e uniforme, seria o apparelho magico destinado a dar a todos os homens o pleno desenvolvimento de suas faculdades.”
Anísio Teixeira


Anísio Teixeira foi pioneiro na defesa e na criação da educação pública no Brasil. Almejava uma nova política educacional que estivesse além dos interesses de classe – uma educação integral capaz de formar um cidadão democrático.
A primeira metade do documentário aborda sobre o perfil e início de carreira do Anísio, sendo um homem simples, mas de grande fala, cheio de generosidade, com alto poder questionador e fiel em viver o que pregava.
Nascido no interior da Bahia, concluiu seus estudos num Colégio Católico Jesuíta em Salvador, e a partir dali surgiu o desejo de se dedicar a vida religiosa que mais tarde, por duas vezes, fora frustrado pelos seus pais o fazendo desistir deste desejo. Depois disso, já bacharel em Direito, foi convidado pelo Governador Goes Calmon para o cargo, hoje equivalente, de Secretário da Educação, e “é através desse convite que a educação entra em sua vida para nunca mais sair”.
As viagens e os contatos com as escolas americanas também foram determinantes ao fortalecer as concepções do Anísio sobre educação - uma educação baseada na formação do indivíduo para o mundo como sendo o construtor deste mundo, utilizando práticas corporais e manuais associadas ao ensino formal. Como aluno de John Dewey, Anísio herdou o ensino de forma pragmática, ou seja, uma visão da educação e do conhecimento como um processo social, um desenvolvimento segundo o ambiente e o contexto histórico em que se vive. E é a partir dessas influências que Anísio se desvincula do religioso e disso, assume-se como “livre pensador”, sendo agora, um missionário da educação. E é neste momento que é convidado pelo governo do Rio de Janeiro, que na época era o distrito federal, para fazer uma reforma na educação, criando o Instituto de Educação, responsável pela formação de professores da rede pública.
O vídeo retrata também a publicação, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, do “Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova”, que tem Anísio como um dos signatários, e muito importante para a época pois foi revolucionária ao defender uma escola pública, gratuita, laica e obrigatória. A fim de tornar a educação acessível a todos, livre de qualquer concentração de poder religioso e como sendo direito do cidadão e dever do Estado; como um sistema educacional adequado a estrutura moderna que estava se criando no país. Nesta mesma época, Anísio cria em 1935 a Universidade do Distrito Federal (UDF) com enfoque em pesquisa, o que gerava bastante polêmica por conta do contexto social que se vivia no governo de Vargas. E por isso, se vê obrigado a refugiar-se na Bahia.

Passado todo esse contexto de refúgio do Regime de Vargas, Anísio é convidado para retornar a Bahia pelo governador Otávio Mangabeira. E é dessa oportunidade que ele consegue criar em Salvador, finalmente, uma Escola com suas propostas de educação: tempo integral, pública e voltada para as populações mais carentes - o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (imagem acima), a Escola Parque. Essa lhe levaria ao patamar de reconhecimento internacional como modelo base para criação de escolas em outros países subdesenvolvidos pela UNESCO.
Anísio tinha como fascínio a realização do fazer como maior realização do “pensar”, ou seja, uma educação também profissionalizante e funcional. Percebe-se isso com os depoimentos de ex-alunos da Escola que relatam seus aprendizados através de trabalhos manuais como técnicas de pinturas, confecção de roupas e até mesmo colchão. Para ele, a estrutura e o espaço em que se aprende também são importantes. Devendo ser “amplos e generosos”, com capacidade para oferecer qualidade numa estrutura integral, a fim de que o aluno sentisse prazer em estar e participar de todo o processo de aprendizagem.
Com todo o prestígio adquirido, Anísio é convidado para assumir como secretário geral da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Com isso, criou um Centro de Pesquisa sobre a realidade do ensino brasileiro da época, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE).
Toda essa repercussão culmina numa oposição por parte da Igreja Católica que publica o Manifesto dos Bispos, exigindo a demissão do Anísio pelas suas reafirmações em defender a educação laica e para todos. E, ainda neste contexto, publica dois livros bases da sua pedagogia: “ Educação não é privilégio” e “Educação e a crise brasileira".
Já na década de 60, Anísio participa junto a Darcy Ribeiro (antropólogo e sociólogo brasileiro) da criação da Universidade de Brasília, a UNB. E no meio desse processo, a operação de guerra do Regime Militar abarca a continuação da Universidade, com o exílio do Anísio nos Estados Unidos.
Após esse período, volta ao Brasil como consultor da Fundação Getúlio Vargas e na dedicação a literatura com reedição e escritas sobre toda sua bagagem para a educação revolucionária. Nesse processo, estava se preparando para a posse de uma das cadeiras na Academia Brasileira de Letras, quando misteriosamente é assassinado.
Anísio foi, sem dúvidas, um homem revolucionário, que estava “a frente do seu tempo”. Que não cria numa busca sem razão para esta, mas num buscar consciente, com prazer, com um esforço alegre para encontrar e realizar. E desta realização, buscar novas conexões, para novos encontros, sempre com a mesma motivação do processo de aprendizagem. 

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